Me custa a entender muito do que se passa aqui, o meu desconforto inicial era de não ter o que fazer. Eu não fazia nada por não ter amigos, não ter vida social. Então me esforcei para encontrar pessoas e fazer amizades, mas muita gente vive em outra realidade por aqui, casados ou ajuntados. Eles possuem algo, tem idades diferentes, filhos, as conversas são outras. Eu me sinto alienígena entre eles. Durante muito tempo, e eles deveriam ser meus semelhantes. Daí quando olho pros alemães a coisa fica mais estranha ainda, aqui no norte eles não dão papo pra ninguém. Além do povo do trabalho que vive também em suas próprias realidades eu não tinha contato com ninguém.

Até que eu fiz dois amigos especiais aqui, me encontrava com eles pra conversar da vida e aquilo me satisfazia, eu só queria conversar. Jogar conversa fora, mas daí quando eu estava começando a me animar ambos deram fortes indicações que deixariam a cidade. A pandemia bateu e ficou impossível vê-los durante uns 2 meses, então os vi. Era mágico, me sentia realmente com vida. Até que finalmente veio, um deles se mudaria pra Berlim em Agosto, era junho e então a minha amiga disse que iria passar um tempo em Munique, indeterminado. Parece que ela começa a se acostumar com a ideia de ir embora. Existem várias outras pessoas ao meu redor aqui, mas nenhuma com quem eu me identifique. Eu não peço muito, 2 ou 3 pessoas ao meu redor me deixam completamente pleno. Boas conversas ou só o silêncio em boa companhia já é algo surreal.

Mas agora, com essa solidão que se aconchega, eu fico só, eu olho pra mim e não vejo o que está adiante.

Existe algo adiante? Eu tenho pessoas com quem eu gosto de me relacionar aqui? Existe chance de eu ter uma vida amorosa novamente?

A verdade é que eu sempre me vi muito sozinho com os meus pensamentos, eu não deixava as pessoas chegarem perto antes por medo de me machucar, um medo terrível. Hoje eu sei que não controlo isso, hoje eu não tenho um problema em ser ferido, em sofrer na mão dos outros. Isso cura, essa ferida fecha. O que não fecha é a realidade que eu vejo adiante, de um rapaz-moço-homem-velho que vive sozinho, consigo mesmo. Talvez alguns livros, uma comida simples e um chá. Uma cadeira e uma bela tarde. Ele não faz muito, ele sorri, ele vai lá e ali, mas não é daqui, nem de lá.

Eu só quero achar alguém porque eu penso em futuro, em construir algo. Em sonhar com alguém sobre algo nosso. Eu não busco felicidade infindável, não busco dinheiro, não busco glamour, não busco todos os sabores, todas as luxúrias.

Acho que parte de mim está cansada, que talvez seja o momento de parar um pouco. Mover essa energia pra aprender alemão talvez ou para finalmente me exercitar.

Sigo sem saber, sigo contestando aqueles que acham que sabem.