Ninguém Viu
Uma das questões que mais aflige a humanidade é o seu fim. Como a raça humana irá acabar? Como o humano irá acabar? O fim de tudo… Algumas religiões respondem isso dentro de suas narrativas, eu sinceramente não conheço todas, tão pouco a fundo. Mas no caso do cristianismo se fala no apocalipse. O momento último de existência humano, o momento do início do fim. Quando os pecados serão de fato pagos. Ah, quem dera certas Evas não tivessem comido certas Maçãs disse um certo anjo, mas isso é papo pra outra hora. Na perspectiva budista a caminhada para o fim é o próprio caminho óctuplo, só acaba quando há iluminação, só há iluminação em quem percorre o caminho. Bom, na verdade, dependendo da linha budista a iluminação pode ser atingida de outras formas como o Prajnaparamita. Mas enfim, as tradições religiosas possuem caminhos, trilhas que levam ao fim.
Os cientistas se preocupam em buscar responder isso também, aos seus modos, lutando contra o fim em busca de novos tratamentos para doenças. Tentando eliminar mazelas e extinguir a noção da morte. Ou quando buscam entender as origens do universo porque bom, sabendo como começou, como vem se desenrolando provavelmente conseguimos ter palpites sobre o futuro. A gente nem sabe o quanto é bom nessas coisas, a nossa habilidade de replicar receitas culinárias é algo de uma ordem de complexidade extrema e é maravilhoso, vai por mim, se a gente entender como algo começa, ver como tá indo, a gente pode dar um bom chute do que vem a seguir.
Mas pra mim é claro que independente da lente que você para ver o mundo ou experiencia-lo, tome como quiser. Nos somos exploradores por natureza, é do íntimo humano buscar conhecimento/respostas. Temos fome de maçã.
Eu acredito que sei o que vai nos extinguir e nem vai ser tão trágico. Eu acredito muito que o simples e óbvio é o real. É o que de fato acontece. Então, enquanto lutamos contra aquecimento global, buscamos melhores fontes de energia, otimizar a economia, automatizar postos de trabalho, acabar com a fome do mundo, propagar a paz no mundo, acabar com os males sociais e promover as liberdades e garantias individuais e coletivas. Estamos também promovendo a solidão nesse processo, os países mais ricos e que tomam a frente e ditam o ritmo das mudanças prezam por economias extremamente individualistas que promovem esse capitalismo selvagem e competitivo. Sinceramente, Marx e Smith não teriam horas suficientes no dia para escrever sobre suas próximas teorias. E é assim, com essa pegadinha do eterno sonho de ultra-produtividade que ancoro a minha teoria. Nessa busca incessante por maior produtividade, por fazer mais com menos, mais em menos. Comemos em frente a reuniões, comemos vendo o seriado, lemos no caminho pro trabalho, enquanto fazemos as compras do dia e respondemos aquele amigo sobre a saída do fim de semana. É extremamente irregular o hábito de fazer nada, ou sequer de fazer apenas uma coisa. Esse espasmo social vai nos matar. Com essa atenção toda distribuída acabamos por ser ninguém, por fazer nada. Vamos terminar tomando pílulas pra saciar a fome, shakes protéicos pra suprir necessidades nutricionais, e assim por diante. Descolados nessa vida futurista e individualista baseada em consumo e não em experiência. Vamos perder a essência do humano. Do explorador que busca respostas. Vamos nos afastar uns dos outros, mas também de nós mesmos. E assim, vamos sofrer da mazela mais aterrorizante para qual não existe guerra. Ah, porque é claro que se temos um inimigo em comum basta declarar guerra, guerra aos nazistas, guerra à dengue, guerra às drogas…Quero ver declararem guerra à solidão. A solidão existencial do humano no universo deveria ser o suficiente para nunca cairmos nessa armadilha, mas é o nossa fissura por nutrir desejos cada vez mais egoístas que vai nos colocar nessa posição de assistir, imóveis e incapazes, ao nosso fim.