Não é de escuridão, nem de silêncio, não é de ausência também. Mas chamam de solidão, será que alguém sabe bem o que é? Ou a gente só brinca de saber? Eu nunca lembro se contei isso pra alguém então vou contar aqui. Eu sempre me senti longe e distante, hoje eu sei que alguns momentos da minha infância me fazem ser desconfiado com os outros, eu tenho que lutar ativamente contra esse rancor que ficou em mim pra permitir que os outros entrem e é difícil, é foda. Porque eu me sinto nu, e não do jeito que eu gosto, eu fico sem saber às vezes se fui longe demais. E isso, essa é a fundação pela qual eu basicamente passei bons anos com colegas, mas sem amigos, eu trocava favores, mas não estava presente e não tinha ninguém presente para mim. Eu era meio inicio, meio e fim, completo em mim mesmo. Eu ficava assistindo o circo, as interações, birras e risadas, aprendi muito assistindo os outros, mas eu passava os recreios quieto, sentado, sozinho. Eu tinha meu lanche, eu tinha meu banco e era isso. Os fins de semana eram incríveis, eu tinha amigos na internet, eles eram de todas as partes do Brasil e logo começaram a ter todos os gostos pra sexo também. E acho que foi lendo sobre as experiências deles que eu me atrevi a não me limitar, não só no sexo, mas na vida. As diferenças são tão grandes. Não tem porque querer ser igual, normal, entediante. E aí eu fiz uns amigos com 15 anos, foi bem fantástico, viajamos, beijamos, abraçamos, tomamos porre, não dormíamos, tudo junto. Mas tudo passa, eu tive que ir pra longe e me doía falar com eles. Então resolvi me isolar, eu sempre faço isso, sempre.

Pra não me machucar, pra fingir que eu não sinto, a falta que faz. Será que eu atravessei um oceano pra isso? Eu gosto daqui, do ar daqui, da pontualidade, das diferenças. O que eu não gosto é que…eu não escolhi não ter amigos, dessa vez. Eu gosto de ficar só, fiquei muito. É bom, principalmente se posso fazer nada e cuidar de mim. O que me mata, é ficar tão só.

Eu falo que não é escolha minha porque geralmente é mais fácil, a verdade é que eu nem me esforcei. Quando eu saí da faculdade tive aquela pequena crise existencial: o que fazer com esse tempo livre? Eu estava acostumado a dormir 6 horas, trabalhar 8, passar 4 no transito e comparecer à faculdade(entenda como quiser). Aí pensei, não quero mestrado, não quero malhar, não tenho dinheiro ou vontade de pagar de mochileiro, eu gosto de trilhar o meu caminho. Meus amigos, na época, trilharem esses outros caminhos. E logo acabou, logo aquela amizade se foi. Eu ainda estava terminando a faculdade e eles não me respondiam, estavam sempre ocupados, foi aí que um colega de trabalho resolveu me acolher.

Eu fui ver ele tocar, bebemos e falamos sobre a vida, fomos ao centro budista. Compartilhamos corações partidos, vitórias, sonhos. Ele estava presente, eu estava.

Aí eu comecei a namorar, ele ficou mais boêmio, eu fiquei mais quieto. Eu me afastei porque encontrei outro alguém com quem queria estar mais. Foram anos bons, serei eternamente grato por ter vivido o que vivi, nem tem como não ser. Sorriso maldito daquela mulher, acredite em mim. Mas foi com ela que aproveitei bem, fui aos lugares que queria, experimentei os sabores, talvez só tenha encontrado uma outra pessoa assim, que provocava a minha existência. Quando acabou eu sabia que ia ficar buraco, ele é fundo, mas eu nunca entrei nele. Já saí de buraco fundo e eu passo, eu fico triste, eu choro, eu derramo o que for de lágrimas, buracos nunca mais!

Foi aí que eu pensei: eu gosto da minha vida, do que eu faço, isso é bom. Eu conhecia a cidade, andava sem dúvidas, era tão certo. Vir errar aqui parecia-me uma boa opção, então eu vim. Mas eu não falo aqui sobre ir ou ficar, queria falar sobre se eu sou ou estou sozinho. Eu mesmo, não sei.