Eu finalmente movi a sua cadeira, não porque eu segui em frente ou o que eu sinto passou. Mas porque eu preciso começar, preciso começar em algum lugar. Dessa vez eu escrevo em português porque esse não é para você ler, é para eu escrever.

São muitas as minhas vontades e muitas as minhas limitações, não me dói, pelo menos não tanto, estar ao seu lado. Eu geralmente te falo quando me faz mal, você me entende e me ajuda, é uma limitação temporária. A nossa amizade me enchia de esperança de viver algo que eu não vou poder viver, mas isso não me impede de te olhar ir embora. Você me deu tchau, me disse que foi bom me ver, colocou os fones de ouvido e saiu andando pra pegar o sinal aberto, não olhou para trás, outra faixa, outro sinal, não olhou também e outra faixa, outro sinal. Eu monto na bicicleta, uma última olhada, você parece forte e independente, decidida com a vida, que bom, muito bom. Possam todos os seres que cruzam o teu caminho se beneficiar da sua presença. Acho que isso o budismo me ensinou.

Eu tento gerar esses tais benefícios, nem sempre funciona. No fundo eu sei que só vou me desfazer completamente quando você se for porque daí eu tenho uma chance de passar pelo luto completo disso, de me afastar de verdade. Me afastar de você agora me tira parte de mim, você é tão carinhosa, engraçada, presente. Eu me sinto acolhido ao seu lado, me dói quando eu tento me afastar, eu não posso pedir isso de você, mas eu sei que vai acontecer de um jeito ou de outro. Todas as regras de todos os jogos mudaram, eu não tenho mais planos de ficar ou ir, eu só estou tentando entender o que vem a seguir, me adaptar e continuar vivo.

Um dia você vai se despedir, eu não vou querer estar lá, talvez eu chore. Provavelmente eu vá chorar, mas eu vou te dizer pra ir viver a sua vida, para se cuidar. Com um desejo de te rever anos depois, mas dessa vez eu tenho que avisar para mim, que é melhor não. Não é nada contra você, mas eu já tenho essa pessoa.

Acho que agora é o momento de eu admitir que eu cometi o erro mais grotesco da minha vida ao terminar o meu namoro com a lora, nunca a chamei assim, mas afim de preservar as identidades. No nosso primeiro encontro ela veio me buscar na rodoviária, fomos ao parque, conversamos muito, ficou tarde, a mãe dela me levou até a rodoviária. No vimos algumas vezes mais e passamos meses sem se ver, eu não tinha mais vontade dela, não pensava nela, mas um dia eu pensei. Ela respondeu e eu vivi o conjunto dos melhores dias da minha vida e ela faria pouco caso, mas eu devo tudo a ela. Eu nunca fui tão bom, nunca me senti tão bem, nunca senti que pudesse tanto sendo tão pouco, nunca nunca.

Queria encostar o meu rosto no teu, fechar os olhos e não ter medo de abrir porque você ainda estaria aqui, comigo.

Ela que disse que não podia me pedir para esperar na rodoviária da vida. Se soa clichê é porque cada centímetro dessa dor é verdadeira. É vivência que faz história, seus putos!

Nada volta. NA-DA. VOL-TA.